quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fortaleza amada ...

Tentarei hoje responder ao questionamento do meu amigo leitor Sérgio sobre meu amor por Fortaleza, abordagem esta também feita por outros amigos meus que sabem do meu orgulho de ser nordestina . Afinal, o nordestino além de tudo é um forte. Não são palavras minhas.
Pois bem, a Fortaleza onde eu vivi e de onde eu saí há 34 anos atrás já não é a mesma. Portanto, tentarei descrevê-la em duas etapas.
Da Fortaleza antiga eu sinto muita saudade sim, de todos os lugares por onde andei, das travessuras da infância, da família que sempre se reunia para as festas tradicionais com o montão de primos perturbando os tios e avós... da tranqüilidade do ir e vir sem os perigos atuais, da adolescência e juventude com os passeios aos sábados de manhã pela Praça do Ferreira e Rua do Ouvidor(rua de pedestre) onde os paqueras ficavam parados nas esquinas a nos observarem e implorando por um sorriso (o que hoje chamam de azaração, parece). Do cinema São Luiz, o melhor e mais moderno da cidade naquela época onde os homens só podiam entrar usando paletó (tal qual certos restaurantes de hoje). E alí assistiamos aos filmes maravilhosos que não vou citar quais para não descobrirem minha idade. Dos grupos de maracatus que se apresentavam no carnaval(o que eu mais gostava era o Az de Espada), com o seu ritmo cadenciado que até hoje me contagia. Da escola pública que era um exemplo de ensino freqüentada desde pessoas mais ricas(tive uma amiga filha de governador do Estado) até pessoas mais necessitadas, sem nenhum preconceito, e acho até que foi ali que senti o gosto de defender essa mistura de classes e onde descobri minha tendência socialista. Dos amigos da vizinhança, e que delícia quando a noite chegava e podíamos nos reunir na calçada para as brincadeiras e já na fase adulta para vermos nossas paqueras. Do Teatro José de Alencar que freqüentei desde a infância porque um tio era seu administrador. E as noites de Natal? Um capítulo à parte. Não existiam as faustoas ceias com aquela comilança toda. Havia um jantar um pouco mais caprichado com a família reunida, os grupos das pastorinhas que dançavam e cantavam em público, mas o ponto alto era a missa da meia-noite chamada Missa do Galo. Ela ainda é praticada nos dias de hoje??? (essas são lembranças da infância). Na juventude os hábitos nessa data continuaram os mesmos, mas entrava aí a noite de reveillon, a ida aos clubes . Ah! Aqueles clubes (poucos perduram até hoje). As tertúlias(não, não eram reuniões literárias) eram o que chamamos por aqui de baile. Nos dias de festas já tínhamos nossos pares certos, aqueles moços que dançavam todo tipo de música, e bem, e que, por vezes, causavam ciúmes aos namorados que não sabiam dançar...mas eram todos amigos. Beleza pura . E ainda cheguei a freqüentar as boites recém criadas na cidade e pavor dos pais e mães da época. Aí sim, foi que começou a chegar por lá a música eletrônica, até então eram conjuntos musicais e até orquestras que se apresentavam tocando boleros, sambas e rock. . Das praias do meu Ceará tão idolatradas pelos cancioneiros onde imperava o pescado em sua moradia modesta e hoje tão desfiguradas pela especulação imobiliária e o progresso desenfreado que tomou conta da região.
Em seguida passei a viver no que chamávamos por lá de” sul do Brasil”, mas que na verdade é o sudeste por onde ando atualmente. Afinal, todas as cidades abaixo de Sergipe eram ditas popularmente como do sul naquela época.
Pois então...hoje Fortaleza é uma cidade super moderna, com seus arranha-céus imponentes,o progresso chegando a passos largos, mas com um crescimento que eu costumo dizer desenfreado e sem planejamento. Afinal, por trás daquela imponência das moradias da orla marítima e da Aldeota(o bairro chique onde todos desejavam morar) vê-se um amontoado de bairros carentes, muitos ainda sem infra estrutura, com pessoas vivendo sem um mínimo de conforto, além daqueles outros pontos tão centrais onde imperam as favelas mais desprezadas ainda.
Mas é a Fortaleza bonita com a comida gostosa, variada, as frutas tropicais, o sol brilhando o ano inteiro ( xô frio...), um povo hospitaleiro, simpático, acolhedor mesmo, e um tanto ingênuo ainda diante das maldades humanas Uma cidade visitada por turistas do mundo inteiro, que tem a noite mais animada das que se possam desejar, com atrativos desde os passeios e feiras à beira-mar às barracas da Praia do Futuro sempre muito freqüentadas durante todos dos dias da semana. Os bares e restaurantes que servem os mais vaiados tipos de comidas regionais, as casas noturnas (uma cópia do que ocorre pelo Brasil) onde a juventude atual prefere estar enfim, uma gama de diversões que levaria tempo para serem descritas.
Mas saudade dessa cidade de hoje? Sinceramente não sinto, pelo fato de que a Fortaleza de hoje se mostra um tanto artificial diante de meus olhos; pelo fato de que a Fortaleza de hoje está maltratada pelos seus governantes, pela violência que já chega por lá em grandes proporções e até com requintes de crueldade. Pelo fato de que a Fortaleza de hoje se veste de uma grandiosidade, um deslumbramento, esquecendo de sua gente humilde, do pescador autêntico e sofrido, de suas rendeiras que ficam dias e dias diante daquelas telas de bordados e do bilro para tecer suas rendas, seu ganha pão. Amor por ela, com certeza, por ser minha terra natal. Mas ali também passei por grandes perdas de pessoas muito queridas que representaram muito em minha vida.
No entanto, deixando o sentimentalismo de lado, gosto, sem dúvida, de passear por lá, pelas praias maravilhosas em seu entorno, de sentir aquele sol, aquela brisa do mar , de encontrar familiares e amigos queridos, comprar peças de seu artesanato tão rico enfim, um autêntico relax. E sempre recomendo essa escolha às pessoas com quem convivo, e dessas não há quem não tenha gostado de lá, que não tenha elogiado principalmente sua gente, a coisa mais rica que podemos considerar dentre isto tudo.
Visite-a também. Abraços Elbia

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

É Carnaval...

... São três dias de folia e brincadeira/você pra lá eu pra cá/até quarta-feira... Essa festa não é onvenção de brasileiro não. Tem raízes na idade média, chegou na Europa e se expandiu pelo resto do mundo. Veio para o Brasil com o nome de "entrudo" dado pelos portugueses. Algumas particularidades do carnaval de nossos dias mantém os nomes e significados surgidos na Itália a partir do século XVIII. Por exemplo: a máscara (bauta)- que era de uso orbigatório nas festas e lugares públicos; o confete (confetti)- que era feito de grãos açucarados e depois substituido por papeis coloridos; corso- que recebeu o nome da rua onde se realizavam as festas públicas na capital italiana. No final do século XIX o carnaval acontecia no Rio de Janeiro, quando a rua do ouvidor, palco da aristocracia da época era tomada por uma leva de pessoas que se juntavam com diversos propósitos. Havia os mascarados e os Zé-pereiras que brincavam de forma barulhenta pelas rua. Outras pessoas ficavam nas sacadas dos prédios observando os foliões. No ano de 1840 acontecia o 1º baile de carnaval no Rio de Janeiro. A músic a "Ô ABRE-ALAS", composta por Chiquinha Gonzaga, foi considerada a primeira música do carnaval brasileiro. Também no século XIX surgia no Recife um ritmo que permanece até hoje no gosto do povo - o FREVO. Já em 1917 foi gravado o 1º samba "PELO TELEFONE", de Mauro de Almeida e Donga. Na Bahia, em 1950, foi inventado o duo elétrico por Dodô e Osmar que no carnaval seguinte recebeu o nome de trio elétrico. Meu primeiro contato com o que eu imaginava ser o carnaval carioca aconteceu através do filme Orphée Noir que no Brasil recebeu o nome de ORFEU DO CARNAVAL, uma produção franco-brasileiro, com direção de Marcel Camus e texto de Vinicius de Moraes. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro que dividiu com outros três filmes da época. O enredo conta a história de um sambista que mora no morro e se apaixona por Eurídice, uma jovem do interior que vem para o Rio de Janeiro fugindo de um estranho fantasiado de Morte. Uma das músicas que mais me chamaram a atençaõ no filme foi Manhã de Carnaval de Luiz Bonfá. Porteriormente, Cacá Diegues lança o filme Orfeu baseado na peça Orfeu da Conceição de Vinucius de Moraes.Posteriormente, na década de 70, vim conhecer o carnaval do Rio de Janeiro quando o desfile acontecia na Av.Presidente Vargas, e mais aberto ao povo em geral. Tudo isto me deixa saudades quando nos dias de hoje vejo a comercialização dessa festa através de seus desfiles grandiosos e seu distanciamento daquele carnaval de rua tão mais autêntico e espontâneo. Sem falar no carnaval dos clubes e agremiações onde se dançava ao som das marchinhas carnavalescas com seu ritmo contagiante.E não pensem que faz tanto tempo assim...tudo isto aconteceu ONTEM....Beijos, Elbia